Transtorno de Personalidade Borderline - TPB

O que é Transtorno de Personalidade?

Primeiramente, é válido ressaltar a definição de personalidade como sendo algo desenvolvido no início da vida e que envolve alguns fatores como experiências, predisposição genética e questões culturais.
Embora exista uma tendência genética ao desenvolvimento de algum desses transtornos, o ambiente pode moldar suas características. Caso educado com limites, sem hostilidades, negligência ou abuso o indivíduo poderá apresentar melhores resultados.
Isto significa ainda a existência de ímpares ganhos sociais futuros se a infância for preservada e livre de maus-tratos, abandono, violência moral ou sexual. Onde desvios de condutas podem ser previnidos, bem como consultas psiquiátricas, se houver esses cuidados. Ou seja, traumas vivenciados atuam como possíveis catalisadores de tais condições mentais.

E o quê vem a ser um Transtorno da Personalidade? Tudo aquilo que gera sofrimento a quem é por ele acometido ou possui algum tipo de relação, seja pelo seu jeito inflexível, evitativo, dependente, dramático, manipulador, megalomaníaco, agressivo.
Pode existir a má interpretação de transtorno enquanto tudo que foge da normalidade do contexto cultural de onde o indivíduo está inserido, porém pelo fato de "normal" ser algo relativo e associado a moral vigente, a melhor definição de transtorno é quando os padrões desajustados trazem sofrimentos para si e/ou para outrem.
Se, por exemplo, o excesso de emoções não trouxer comprometimento à saúde, execução de sua vida funcional nem nas relações pessoais não se caracterizaria um transtorno visto que todas emoções são experimentadas em algum momento por todos nós e enquanto isso sentimos como os "transtornados" vivem.

O ser, o estar e o possuir apenas traços de um transtorno, conforme definido no livro "Mentes que amam demais", da Dra Ana Beatriz Barbosa Silva, fazem muita diferença e podem ser classificados da seguinte forma: o ser exige que se preencha uma quantidade mínima de requisitos, os traços são a apresentação de alguns pontos danosos em comum, mas não suficientes para diagnosticar um transtorno e o estar pode ser definido como uma crise de ciúmes ao término de uma relação amorosa ou explosão de raiva numa briga.

O DSM-5 classifica os 10 Transtornos de Personalidade dentro dos clusters (grupos) A, B e C de acordo com a semelhança de suas características. O cluster A enquandra os transtornos tidos como estranhos e paranóicos, são eles: esquizoide, paranóide e esquizotípico. O cluster B engloba os pacientes dramáticos, são os histriônicos, borderline, narcisistas e antissociais. E por último, o cluster C com os indivíduos ansiosos como obsessivo-compulsivos, esquivos e dependentes.

Pode-se ainda pensar que os quadros de Transtornos de Personalidade (TP) são doenças ou ser comumente confundidos com os transtornos de humor como depressão, ansiedade e bipolaridade.
Embora frequentemente haja dificuldade em dissociar tais quadros dos TP devido à grande ocorrência de comorbidades, uma doença pode ser controlada apenas com medicamentos, situação que não ocorre nestes casos.

Transtorno de Personalidade Borderline

O foco deste projeto será trazer a tona maiores esclarecimentos sobre o Transtorno de Personalidade do cluster B, o Borderline.
Este transtorno em específico é um dos que possui maior predominância entre todos, sem contar os casos subnotificados, chegando a 10% dos pacientes ambulatoriais e 20% dos internos em clínicas psiquiátricas.

A desinformação permite que muitos associem o transtorno ao crime ou pessoas perigosoas, porém o TPB se refere ao desequilíbrio emocional, mas para o exagero. Antissociais apresentam indiferença aos sentimentos humanos e extrema racionalidade, os borderlines possuem descontrole emocional, inconsequência de seus atos e impulsividade, sendo inclusive vítimas preferidas dos psicopatas e narcisistas.
Todos esses sintomas estão relacionados a problemas de ego, onde o borderline possui baixíssima auto-estima e o narcisista precisa ser idolatrado, formando as combinações de relações mais potencialmente perigosas.
Borderlines e psicopatas possuem déficits na formação de uma estrutura cerebral chamada córtex pré-frontal, composta por amígdala e hipocampo. Enquanto os antissociais não possuem qualquer reação a emoções, os "border" têm a amígdala hiperativa, reagindo de maneira exagerada aos estímulos e não controlando a impulsividade. Além disto, o hipocampo é responsável pela memória e aprendizagem com os erros e como é uma área deficiente, os border costumam insistir nos erros, especialmente no campo afetivo. Eis aí a grande diferença entre os transtornos, sendo extremos opostos, porém muitas vezes tratados como mesma coisa, os border apenas sofrem bastante. O ideal nesses dois casos é a busca de tratamento adequado para o encontro do equilíbrio, mas em geral não é isto que acontece.
Os pacientes costumam resistir ao tratamento, mas uma vez iniciado os borderline apresentam bons resultados. Contudo, o prognóstico para os narcisistas e antissociais é desanimador, pois os mesmos com toda sua superioridade não reconhecem suas falhas uma vez que os mesmos não sofrem com os seus atos e sim a sociedade como um todo. Estes últimos só buscariam ajuda se fosse para benefício próprio, como todas suas ações são baseadas no egocentrismo já que eles são superiores e mais inteligentes e acreditam merecer o melhor.

Saindo da perspectiva da psiquiatria, para a psicanálise ambos border e narc possuem um senso de eu empobrecido, mas diferentes formas de lidar com isso. Isto significa dizer que os border buscam incessantemente por aprovação e amor de maneira descontrolada, como uma criança, não tolerando rejeição ou frustração e podendo ter atos violentos e de auto mutilação. Enquanto que os narcisistas necessitam de constantes aplausos para se validarem, muitas vezes usando os borderlines que se submetem a diversas situações de esforço numa tentativa de não serem abandonados.
Estas relações são muito complexas e costumam prejudicar os border que são muitas vezes colocados em situações perigosas e indesejadas para agradar o abusador. Muitas vezes esses abusos culminam num suícidio da vítima, se não houver uma intervenção precoce.

Por possuírem uma sensibilidade muito à flor da pele, os border se destacam nas artes como música, literatura, cinema e causas sociais. Dentre as celebridades podem ser mencionadas Amy Winehouse, Lady Diana, Janis Joplin, Elizabeth Taylor, Marilyn Monroe, Jimi Hendrix.

A seguir serão listados os 9 sintomas catalogados pelo DSM-5 para diagnóstico do borderline, bem como exemplos práticos, onde é preciso que o paciente se encaixe em pelo menos 5 para configurar o transtorno, começando no início da vida adulta em diversos contextos. A condição básica que deve ser comum a todos os casos é o medo exacerbado de abandono.

• Esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginário.
• Padrão de instável e intenso relacionamentos interpessoais caracterizados pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização. Também conhecido como "splitting", um mecanismo de defesa onde diante da ameaça de rejeição passa do amor ao ódio, oito ou oitenta.
• Distúrbio da identidade: marcante e persistentemente instável auto-imagem ou senso de eu. Há relatos de mudanças constantes de cor e modelos de cabelo, tudo em busca de uma personalidade por esta ser bastante fluida.
• Impulsividade em pelo menos duas áreas que são potencialmente auto-destrutivas: gastos em excesso, sexo desprotegido com desconhecidos, abuso de substâncias, direção perigosa.
• Comportamento suicida recorrente, gestos, ou ameaças ou comportamento auto-mutilante.
• Instabilidade afetiva devido a uma marcada reatividade de humor
• Sentimento crônico de vazio. Não conseguem ficar sozinhos.
• Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em seu controle. Vontade de agredir verbal ou fisicamente as pessoas quando contrariados ou rejeitados.
• Ideação paranóide ou severos sintomas de dissociação; sensação que está saindo do corpo ou pequenos surtos psicóticos como achar que estão falando mal de você, fugas da realidade.

Mais do que tudo, vou deixar aqui frisado que Transtornos de Personalidade são formas de pensar, reagir, comportar, suas persperctivas diante dos acontecimentos da vida e não uma doença. Personalidade é algo construído e estável, por isso a dificuldade em sua flexibilização, é a forma como você aprendeu a viver desde sempre.